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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,

Penso em ti no silêncio da noite, quando tudo é nada,

E os ruídos que há no silêncio são o próprio silêncio,

Então, sozinho de mim, passageiro parado

De uma viagem em Deus, inutilmente penso em ti.

Todo o passado, em que foste um momento eterno

E como este silêncio de tudo.

Todo o perdido, em que foste o que mais perdi,

É como estes ruídos,

Todo o inútil, em que foste o que não houvera de ser

É como o nada por ser neste silêncio nocturno.

Tenho visto morrer, ou ouvido que morrem,

Quantos amei ou conheci,

Tenho visto não saber mais nada deles de tantos que foram

Comigo, e pouco importa se foi um homem ou uma conversa;

Ou um [...] assustado e mudo,

E o mundo hoje para mim é um cemitério de noite

Branco e negro de campas e [...] e de luar alheio

E é neste sossego absurdo de mim e de tudo que penso em ti.

s.d.

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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