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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

1. Com a alma atormentada pela impotência do ódio que nos nascera...

1. Com a alma atormentada pela impotência do ódio que nos nascera da contemplação dessa horrorosa maioria traidora que ora no parlamento é para o rigoroso sociólogo apta e completamente representativa da monarquia portuguesa, lucubrávamos com impaciência o esboço mental de um artigo, onde, a par da frase enraivecida e áspera, a psicologia explicativa não fizesse falta. Servir-nos-ia de tema para esse artigo a figura porcamente representativa do Sr. José Luciano de Castro, bandalho máximo da política portuguesa. Pouco mais houvéramos obtido, porém, do que a intuição daquele epíteto, e a correspondente compreensão psicológica do que de adaptado era ao indivíduo a quem o aplicaríamos, quando, por um acaso que sentimos não poder considerar obra da Providência, nos veio ter às mãos um panfleto partidário que num catálogo se designaria do modo seguinte: "A ... transcribe).

Os panfletos partidários têm geralmente valor, seja qual for a circunstância de momento e de carácter em que foram escritos, quando sejam escritos da oposição. Por isso, sem deixar de seguir um critério imparcial e rigorosamente psicológico, detivemo-nos na leitura das trinta e duas páginas subordinadas ao título que acima foi.

Era o que queríamos. Aquele panfleto, cujo autor não sabemos, nem, realmente, nos importa saber, basta-nos como ponto de partida fácil para as deduções de natureza sociológica e sociologicamente psicológica que nos propúnhamos fazer neste artigo. Neste artigo — especializámos, porque no livro sobre a significação sociológica do que actualmente se passa e modernamente se tem passado em Portugal, que preparamos, o problema tem de ser mais fria e analisadamente resolvido. A sociologia de artigo de jornal ou revista tem, posto em certa, de ser mais resumida nas suas provas (...) E a razão simples é que as provas sociológicas de um facto social qualquer ser desta ou daquela maneira interpretado são sempre longas e difíceis de rápida exposição, porque as deduções têm de ser matematicamente elos.

O progressismo representativo da monarquia constitucional. O caminho que o progressismo seguiu é o que ela seguiu, Analisando um, analisaremos o outro caso.

Ladrões natos, liquidando em traidores comprados e espontâneos de uma inconsciência e (...) que apavoram, os progressistas, aptamente representados pelo seu chefe, o Bandalho Máximo, simbolizam a Monarquia.

s.d.

Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.

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