Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Depois que o som da terra, que é não tê-lo,

Depois que o som da terra, que é não tê-lo,

Passou, nuvem obscura, sobre o vale

E uma brisa afastando meu cabelo

Me diz que fale, ou me diz que cale,

A nova claridade veio, e o sol

Depois, ele mesmo, e tudo era verdade,

Mas quem me deu sentir e a sua prole?

Quem me vendeu nas hastas da vontade?

Nada. Uma nova obliquação da luz,

Interregno factício onde a erva esfria.

E o pensamento inútil se conduz

Até saber que nada vale ou pesa.

E não sei se isto me ensimesma ou alheia,

Nem sei se é alegria ou se é tristeza.

13-9-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

 - 95.