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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

SAUDAÇÃO [a]

SAUDAÇÃO

Um comboio de criança movido a corda, puxado a cordel

Tem mais movimento real do que os nossos versos...

Os nossos versos que não têm rodas

Os nossos versos que não se deslocam

Os nossos versos que, nunca lidos, não saem para fora do papel.

(Estou farto — farto da vida, farto da arte —,

Farto de não ter coisas, a menos ou a medo —

Rabo-leva da minha respiração chagando a minha vida,

Fantoche absurdo de feira da minha ideia de mim.

Quando é que parte o último comboio?)

Sei que cantar-te assim não é cantar-te — mas que importa?

Sei que é cantar tudo, mas cantar tudo é cantar-te,

Sei que é cantar-me a mim — mas cantar-me a mim é cantar-te a ti

Sei que dizer que não posso cantar é cantar-te, WaIt, ainda...

s.d.

«Saudação a Walt Whitman».

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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