Fernando Pessoa
Eh, como outrora era outra a que eu não tinha!
Eh, como outrora era outra a que eu não tinha!
Como amei quando amei! Ah, como eu via
Como e com olhos de quem nunca lia
Tinha o trono onde ter uma rainha.
Sob os pés seus a vida me espezinha.
Reclinando-te tão bem? A tarde esfria...
Ó mar sem cais nem lado na maresia,
Que tens comigo, cuja alma é a minha?
Sob uma umbela de chá em baixo estamos
E é súbita a lembrança
Da velha quinta e do espalmar dos ramos
Sob os quais a merendar — Oh, amor da glória!
Fecharam-me os olhos para toda a história!
Como sapos saltamos e erramos...
s.d.
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).
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