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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Oscila o incensório antigo

Oscila o incensório antigo

Em fendas e ouro ornamental.

Sem atenção, absorto sigo

Os passos lentos do ritual.

Mas são os braços invisíveis

E são os cantos que não são

E os incensórios de outros níveis

Que vê e ouve o coração.

Ah, sempre que o ritual acerta

Seus passos e seus ritmos bem,

O ritual que não há desperta

E a alma é o que é, não o que tem.

Oscila o incensório visto,

Ouvidos cantos estão no ar,

Mas o ritual a que eu assisto

É um ritual de relembrar.

No grande Templo antenatal,

Antes de vida e alma e Deus...

E o xadrez do chão ritual

É o que é hoje a terra e os céus...

22-9-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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