Corrente definida, por enquanto, dentro do partido republicano...
Considerações pós-revolucionárias
Corrente definida, por enquanto, dentro do partido republicano há uma apenas a do talassismo republicano. O resto do partido mantém-se indeciso e perturbado perante ela.
A palavra talassa ficou, da célebre mensagem do Brasil, para designar primeiro um indivíduo membro do partido franquista, logo em seguida estendeu-se a sua significação para a de um monárquico ferrenho, estúpido, sectário e feroz. Vamos estender ainda mais o uso do termo, porque o seu sentido pejorativo a isso nos convida; vamos chamar talassismo ao estado de espírito caracterizado pelo sectarismo puro — isto é, pelo estúpido apego a uma doutrina estupidamente compreendida. A ferocidade contra os inimigos, a ganância, o egoísmo hediondo, a vaidade [...] são coisas que o mais leigo em saber o que é o sectarismo estúpido deduzirá do mero termo como necessariamente características daqueles a quem o termo se aplica.
Quem leu os jornais talassas encontrou neles estes (...): ódio latente e feroz, dedicação absoluta a certos indivíduos em geral e a um especialmente, inteira falta de generosidade para com os adversários, ignorância profunda, inclemência [?] ignóbil quando na oposição, altivez [...] e idiota quando no poder.
Estas características, porém, tão distintivas são de o Mundo como do antigo Diário [...] e mais recente Correio da Manhã. Se não citamos é porque ao leitor basta para exemplo um qualquer número de qualquer dos 2 jornais. A única diferença está na política e nos ídolos. Para uns, Franco, Vasconcellos Porto, (...); para outros, Afonso Costa, Alexandre Braga, (...) O modo de ser psicológico é idêntico em absoluto.
É perfeita, é quase absoluta, a identidade entre João Franco e Afonso Costa. Em ambos, quanto a inteligência, a mesma incapacidade para altas empresas intelectuais, a mesma impossibilidade de abarcar ideias abstractas, (...)
Resta a diferença de opiniões. Por alguma razão iria Franco para a extrema direita da reacção e Afonso Costa para a república. É a diferença [?] de equilíbrio mental: o equilibrado vai para a corrente sã, instintivamente; o desequilibrado, sem saber porquê, para a corrente doentia. Por temperamento, assim foi.
Nenhum republicano da situação [?] Afonso Costa pode chamar talassa, a não ser que o chame a si mesmo.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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