Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

[Carta a Armando Côrtes-Rodrigues - 4 Ago. 1923]

Meu querido Côrtes-Rodrigues:

Há não sei quantos anos que lhe não escrevo: há tanto tempo que teria agora tanto que contar-lhe que não posso contar-lhe. Só quando falarmos — quando, encontrando-nos, falarmos longamente — poderei contar tudo quanto há a contar desde que nos perdemos de vista e de escrita.

V. o que tem feito? Notícias suas, de certo modo, tenho-as sempre tido, ou pelo Rocha (que acaba de me transmitir as saudades que me envia) ou pelo Duarte de Viveiros.

Esta carta é apenas para lhe escrever — escrever dizendo seja o que for, tornar a falar-lhe, ainda que por escrito... Tanta saudade — cada vez mais tanta! — daqueles tempos antigos do Orpheu, do paùlismo das intersecções e de tudo mais que passou! V. não imagina, apesar da enorme influência que ficou do Orpheu                                 diminuído, moral e intelectualmente                                 tudo.

V. tem visto a Contemporânea. É, de certo modo a sucessora do Orpheu. Mas que diferença! que diferença! Uma ou outra coisa relembra esse passado; o resto, o conjunto...

Escreva-me v., escreva-me sempre que possa. O meu endereço é o mais simples possível: apenas Caixa Postal 147, Lisboa. Se extraviar esta carta e esquecer portanto o 147, lembre-se que basta pôr: Fernando Pessoa - Caixa Postal — Lisboa. Mesmo sem número me chega às mãos.

Dê-me notícias suas, extensas se puder.

Um enorme abraço saudoso e amigo do

             Sempre e muito seu

               Fernando Pessoa

4-8-1923.

4-8-1923

Cartas de Fernando Pessoa a Armando Côrtes-Rodrigues.

(Introdução de Joel Serrão.)Lisboa: Confluência, 1944 (3.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte, 1985

 - 71.