A TERNURA LUSITANA ou A ALMA DA RAÇA
A TERNURA LUSITANA ou A ALMA DA RAÇA
O costume de definir o português como essencialmente lírico, ou essencialmente amoroso — absurdo, porque não há povo quase nenhum que não seja estas duas coisas. Ao mesmo tempo vê-se que, ainda que a expressão falhe, há qualquer coisa de verdade, que não chega a descobrir-se, nestas frases.
O que é que há de quase-indefinivelmente português, de portuguesmente comum excepto a língua, a Bernardim Ribeiro, Camões, Garrett, Antero de Quental, António Nobre, Junqueiro, Correia de Oliveira, Pascoaes, Mário Beirão ?
Em primeiro lugar, é uma ternura. Mas o que é essa ternura? Ternura vaga (...) em Bernardim Ribeiro, ternura que rompe a casca de estrangeirismo de Camões, no seu auge ternura heróica, ternura metafísica em Antero (curiosíssima fase da ternura que dá corpo ao abstracto, e pode amar um Deus que seja [...] uma fórmula matemática); ternura por si-próprio e pela sua terra — esquiva [...], espontânea e com o lado “tristeza” acentuado, em António Nobre (actuou [?] sobre o Sá Carneiro), ternura pela paisagem em Fialho, ternura que chega a assomar às janelas da alma de Eça de Queirós.
Chamar ao sol “solzinho de Deus” é um fenómeno especial de ternura. Nessas frases do povo está o germe de todo o pátrio.
- 349.