Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO

Sobre o Labirinto

A secção Labirinto apresenta uma selecção antológica de textos de Fernando Pessoa, organizados em percursos temáticos organizados como um hipertexto, no qual o leitor pode navegar autonomamente.

Em cada página, a definição dos módulos de informação tomou como unidade cada texto literário, em relação ao qual se destacou um tema principal — correspondente ao título de página — que permitisse encadear vários textos, segundo uma lógica expositiva, e estabelecer entre eles um fio condutor - representado pelo comentário narrativo que conduz os percursos lineares. Por outro lado, para tornar mais estreita a relação do título e do comentário com o texto, destacou-se deste uma citação que estabece com os primeiros uma relação dinâmica de sentido e que se associa a uma imagem que funciona como âncora visual e como sugestão semântica.

Cada página ou nódulo está assim estruturado como uma pirâmide, contendo:

  1. título,
  2. comentário (frase de síntese que estabelece uma relação narrativa com as páginas anteriores e seguintes desse percurso),
  3. imagem,
  4. citação e
  5. texto ao qual ela se refere.

O utilizador que percorra as páginas numa primeira exploração superficial do programa — situação típica — poderá ler essencialmente os elementos sintéticos, mas essa informação será suficiente para que o percurso, ou a comparação entre percursos, faça sentido e leve à assimilação de alguns elementos básicos relativos ao universo pessoano. Numa outra passagem por esses "locais", poderá aprofundar a sua exploração, seleccionando e lendo os textos, mas já com uma noção do conjunto. De facto, a leitura do texto literário é o objectivo último deste programa, a que o utilizador é levado através de todas as outras informações de suporte. Mas não é indispensável ler cada texto de Pessoa para se ficar com uma percepção da obra, uma compreensão do sistema ou mesmo uma visão de conjunto. Este é o objectivo primeiro do programa.

O conceito de labirinto, utilizado como metáfora de organização, é concretizado do seguinte modo: existem percursos independentes de introdução à obra de F.P.; cada percurso desenvolve-se ao longo de um número variável de páginas organizadas sequencialmente segundo uma lógica de iniciação temática; entre esses percursos são estabelecidas ligações determinadas por relações analógicas de conteúdo, cuja teia forma uma espécie de labirinto. Assim, a partir de cada página é possível fazer comparações temáticas e contrastivas com páginas de outros percursos, e sucessivamente de página em página até que o labirinto se torne um desafio real, isto é, em que arriscamos perdermo-nos [1]. O estímulo para saltar de um percurso a outro consiste numa frase ou verso do texto para o qual remetem as ligações que aparecem à direita de cada página.

Nesta teia de relações pré-estabelecidas, cabe ao utilizador o papel activo de interpretação e construção de sentidos. Ele assumirá, portanto, uma autonomia como leitor e explorador da obra literária, para a qual lhe são fornecidas pistas mas não respostas. A este tipo de hipertexto de base intertextual, em que o leitor é convidado a cotejar diferentes textos para tirar conclusões próprias, poderemos chamar também de hipertexto potencial [2], já que, pressupondo a colaboração do leitor para desvendar as ligações propostas entre textos, lhes conserva, no entanto, a sua autonomia e inteireza originais (nem seria tolerável segmentar ou interferir, a partir do seu interior, em textos literários alheios.)

Notas

  1. A ideia de labirinto literário visto como desafio foi defendida por Calvino: «o que queremos separar e distinguir da literatura de entrega ao labirinto é uma literatura de desafio do labirinto.». Calvino, Italo (1962). “El Desafio al Laberinto” in Punto Y Aparte. Barcelona: Bruguera, 1983: 128.
  2. Numa definição próxima da de literatura potencial, criado pelo grupo OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potencielle), que, nos anos 60, propunha e explorava diversas formas de literatura potencial, ou seja, uma literatura cujas possibilidades só se realizam plenamente pela acção de cada leitor. Numa definição sintética, «uma obra potencial é uma obra que não se limita às suas aparências, que contém riquezas secretas, que se presta à exploração» (Bens, Jacques. “Queneau Oulipien”. in OuLiPo. Atlas de Littérature Potencielle. Paris: Gallimard. 1981: 23).